CAPÍTULO 2
Minha
primeira Copa do Mundo
Eu
morava em uma rua da zona leste bem animada, em um bairro chamado Cangaíba.
Nessa casa moravam oito pessoas, entre elas minha avó, duas tias, minha mãe e
meus três irmãos. Era uma tristeza total, pois, não podíamos fazer barulho
algum, porque certamente ouviríamos gritos das minhas tias e os maiores
palavrões daqueles que alguém poderia ouvir e isso doía muito. Mesmo eu não
conhecendo muito de Deus já não gostava deste tipo de palavras pesadas que eram
normais na minha casa.
No
ano de 1994 foi realizada a Copa do Mundo nos Estados Unidos e me recordo bem
deste ano já que era a minha primeira copa. Amei a ideia de pintar as ruas,
guias, bagunças nas casas, fazer balão, bandeiras, comemorar cada gol nas ruas
e gritando muito, chorar com os gols, jogar bola na chuva sem ficar doente após
os jogos do Brasil. Ah! Como eu amei aquele ano, mesmo com tantos problemas já
na infância e eu ainda sorria, mesmo que fosse um sorriso temporário eu ainda
sim, sorria, pois o mundo não acabaria ali.
Lembro-me
bem de cada jogo do Brasil, vários gols do Romário, Bebeto, Branco e isto era
uma emoção tamanha e somente um louco na minha idade não teria coragem de não
curtir aquele momento. Foram dias e dias de felicidades no nosso Brasil mesmo
em meio a tantos problemas como a Aids, drogas, racismo, preconceitos,
latrocínios e mortes, o Brasil naquele momento esquecia os problemas um pouco e
parava para ver a nossa seleção brasileira jogar e caro leitor eu tive o
privilégio de ver meu País jogando e eu pude gritar naquele ano: É Tetra
Campeão!!! É Tetra Campeão!!!.
Como
eu era um jovem apaixonado pelo Futebol, a copa do mundo estava sendo o ápice
da minha alegria de adolescente que sonhava em ser jogador de futebol um dia. Mas
Deus tinha outros planos para mim, o qual eu não entendia naquele momento. Deus
nos ama tanto e quer dar-nos o melhor, e saiba que o melhor mesmo, vem do nosso
Senhor Jesus, amém.
O
tempo passou, fui ficando mais velho e me achando um homenzinho, afinal eu já
tinha 14 anos de idade e já não era uma criança mais, pois além do futebol eu
gostava muito de dançar e na minha escola destacava-se quem dançava e para
minha felicidade estava no auge um som chamado Rap. Era um som diferente para
nós pré-adolescentes e naquele tempo festa era o que não faltava, meninas,
bebidas, cigarro e porque não as drogas. Os sábados à noite eram sagrados para
sairmos. Sempre havia alguma balada básica em alguma casa para todos os rapazes
daquela época com quem eu andava e eu certamente não perdia nenhuma. Mesmo após
muitos convites para usar drogas com meus amigos eu não cheguei a usar e lógico
que eu não fumava e nem bebia, mas muitos dos meus amigos caíram nessa logo
cedo.
Como
o Rap já fazia parte da minha vida me aventurei também na onda do Skate, mas
confesso que não fui muito feliz nesta opção, creio que não nasci para isso e
para andar naquilo tinha de ser bom além de ter muito equilíbrio. Naquela época
eles usavam aquelas calças abaixo da cintura e como eu sempre fui magro parecia
que eu havia ganhado a roupa de alguém que havia falecido, ela dava três do meu
corpo franzino.
Meu
irmão mais velho chamado João tinha tudo para dar certo nesta carreira de skate,
porém, infelizmente as suas más amizades o levaram para o uso de drogas logo
cedo e para muitos este caminho não tem outro sentido a não ser a prisão ou
morte.
A
minha adolescência fora marcada por momentos bons e ruins. As lembranças ruins
ainda tentam interferir na minha vida afinal há uma briga constante dentro de
nós, mas prefiro me lembrar das boas.
Os
meus tios trabalhavam no IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
e todo ano o estádio Paulo Machado de Carvalho mais conhecido como Pacaembu era
emprestado nas férias para que todos os funcionários do IBGE pudessem ir jogar
bola, fazer churrasco e conhecer o estádio. Nesta época eu era santista roxo,
logicamente, influenciado pelo meu tio Bene a torcer desde criança pelo Santos.
Ao
chegar ao estádio logo pela manhã, fiquei sabendo que às 16:00h iria ter treino
do Santos e eu era fã do jogador chamado Giovanni que era literalmente um craque
de bola e meu sonho era conhecê-lo. Eu aderi tanto ao fanatismo pelo jogador
Giovanni que ele chegou a pintar o cabelo de vermelho durante alguns jogos e eu
decidi fazer igual mesmo sabendo que o dele era com papel crepom e que sairia
com banho e eu decidi fazer a loucura de um fã mesmo sabendo das gozações que
haveriam de vir. Logicamente que na escola me colocaram os piores apelidos e
piadas possíveis, me chamavam de curupira, índio, o tecladista dos Mamomas Assassinas
entre outros. Por volta das dez da manhã fomos para o vestiário para podermos
colocar o uniforme e mesmo que não jogasse eu estaria feliz, só o fato de pisar
no gramado no qual grandes estrelas do futebol pisaram para mim aquilo seria o
máximo. Olha até onde vai à ingenuidade de um adolescente sonhador. Eu ali
imaginando que grandes feras jogaram futebol naquele campo e nem me atentei que
umas das maiores figuras do futebol do mundo estava ali do meu lado o tempo
todo conversando comigo, era ele: Ademir da Guia. O maior lateral esquerdo que
o time do Palmeiras já teve e um dos melhores laterais do mundo e se não fosse
meu tio Nivaldo para chegar até onde eu estava e perguntar se eu sabia com quem
eu estava conversando eu nem imaginaria que um craque de futebol estava tão
perto de mim. A partir daquele momento eu não sei se eu sorria, se eu chorava,
se eu pulava ou se dava um grande abraço num dos maiores mestres do futebol.
Hoje me lembro feliz porque realizei o sonho de conhecer umas das maiores feras
do futebol.
O
dia estava perfeito, mas ainda faltava algo e naquele dia o time do Santos
ainda iria treinar e eu iria poder ver de pertinho o meu ídolo Giovanni. Mas,
como felicidade de pobre dura pouco, não pude realizar este grande sonho
naquele dia já que minha tia começou a passar mal e aí tivemos de voltar de lá
mais cedo. Quando estávamos saindo do estádio eis que surge o ônibus do time do
Santos chegando e o que eu mais queria naquele dia estava passando pelo vão das
minhas mãos e não pude neste dia realizar meu sonho que era de conhecer o
jogador Giovanni.
No
dia seguinte eu estava assistindo televisão em casa quando eu ouvi a reportagem
contando que o craque Giovanni não pode treinar no sábado à tarde, ele estava
muito gripado e o técnico Cabralzinho decidiu poupá-lo para o dia seguinte. A
pior parte da reportagem foi quando disseram que ele não treinou e ficou dando
autógrafos para todos que estavam ali junto comigo horas depois da minha
partida. O time do Santos estava na semifinal do Campeonato Brasileiro e
enfrentaria o time do Fluminense no dia seguinte. O técnico queria o Giovanni
100%, afinal ele era 60% do time do Santos e um jogador daquele nível era peça
fundamental para toda e qualquer partida de futebol, imagine numa decisão final
de campeonato.
O
time do Santos passou pelo time do Fluminense com dois gols do Giovanni e quando
foi para a Final contra o time do Botafogo perdeu o campeonato graças a uma
péssima arbitragem que não anulou um gol ilegal do centro avante Túlio
Maravilha e o Botafogo comemoraram o Titulo de Campeão Brasileiro de 1995.
Momentos
de felicidades como estes não deixaram eu ir para uma vida de drogas ou roubos.
Eu acreditava no fundo do coração que no momento certo iria chegar minha hora
de ser feliz e que eu apenas vivia momentos e não uma felicidade genuína. No
entanto, eu simplesmente sorria, mas não era feliz. Eu sabia desde cedo que
Deus tinha um plano em minha vida e que cuidava de mim como uma mãe cuida de
seu filho e hoje aqui estou para relatar o que Deus tem feito em minha vida.
“E
sabemos que todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles que amam
a Deus, daqueles que são chamados por seu decreto”
(Rm 8:28)
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