quinta-feira, 29 de maio de 2014

CAPÍTULO 1



CAPÍTULO 1
Tudo começou ali...

Por volta dos doze anos de idade, eu frequentava, quase todos os domingos de manhã, a sala dos jovens de uma igreja batista próxima de casa a convite de dois amigos, Anderson e Júnior. Mas o tempo foi passando, e definitivamente eu não queria aquele caminho em minha vida. Eu era uma criança e, até pela minha idade, o meu sonho não era aquele, eu queria mesmo era jogar futebol e videogame com os amigos; foi aí que veio a adolescência e eu ainda tinha quase as mesmas paixões.

Pensava muito em namorar ou até mesmo ficar com as meninas da escola, pois já sentia um desejo para isso, afinal, já era uma coisa comum naquela época, porém com mais decência do que vemos nos dias de hoje. Minha vida não foi a pior, comparada com a de muitos, mas também nunca foi um mar de rosas. Minha mãe tinha que trabalhar e eu tinha que acordar bem cedo para levar meu irmão mais novo à escola e, ao voltar, tinha de arrumar a casa toda, cuidar da minha irmã e tão logo voltaria à mesma escola, mas dessa vez levando minha irmã e trazendo meu irmão. Dava o almoço para o mais novo, tomava banho e o deixava na vizinha, que cuidava dele no período da tarde, enquanto eu estava na escola.

Confesso que essa não era a vida que eu havia pedido a Deus, mas eu me alegrava em alguns momentos, ou melhor, eu até que tentava, mas sempre faltava algo. Sempre sentia um vazio no peito, sempre eu era barrado pela minha mãe para fazer algo. Eu treinava com o time de futebol que havia no fim da rua em que eu morava Ali pudemos dar muitas risadas, falamos sobre músicas que ambos gostávamos, e a conversa foi tão boa que acabamos marcando para nos vermos no dia seguinte. 
Ao chegarmos da casa da praça, não sei quem teve a ideia de brincarmos de esconde-esconde no escuro.  alguns dias; mas, em dia de jogo decisivo, devido ao qual eu nem dormia de ansiedade para jogar e fazer gols, era justamente nesse dia que ela me deixava de castigo.

Havia muita influência da minha família e talvez ela agisse sob pressão, mas aquilo me entristecia e muito. Um dos dias mais tristes da minha vida foi quando eu fui convidado pelo meu querido tio Nivaldo para ir até a Portuguesa de Desportos, que era um grande time para iniciação, e quem tivesse sorte certamente conseguiria dar o primeiro passo no sonho de jogar futebol. Além disso, a Portuguesa de Desportos era um grande time de São Paulo.
Foi com meu futebol que tudo estava começando, afinal eu jogava bem e tinha tudo para tornar um sonho realidade e me tornar um jogador profissional. Muitos me incentivavam e enxergavam isso, menos minha família. Talvez o fato de terem tantos problemas os deixava cegos para dar valor no meu sonho. Eu havia conseguido uma vaga sem fazer peneira para entrar graças ao meu tio Nivaldo, que conhecia um conselheiro do time da Portuguesa. Quando isso acontece, certamente tudo fica mais fácil. Não era uma certeza de sucesso, mas uma fase a menos nessa carreira já ajudaria e muito para quem estava iniciando.
Ao regressarmos do estádio, ligamos o rádio do carro e ouvimos uma notícia trágica e cruel. Uma notícia que aparentemente mexeria não somente com meu lado emocional, e sim com muitos do Brasil e do mundo. Aquele dia marcou minha vida de uma forma sem explicação. Era por volta das 13h quando o Brasil parou, o mundo chorou e eu também... Um ídolo, um exemplo de vida, um piloto maravilhoso veio a falecer no autódromo de Ímola, na Itália. O dia que parecia ter sido belo e feliz veio a escurecer aos poucos e em questão de segundos. Caí em lágrimas dentro do carro, afinal eu gostava demais de ver todas as corridas desse grande piloto. Nos dias seguintes, eu já não dormia direito e ficava me lembrando da canção tocada em toda rádio e na televisão, chamada “Canção da América”, composta por Milton Nascimento. Esse piloto sempre foi uma das melhores pessoas para mim, ele era Ayrton Senna, um piloto que as palavras não conseguiriam descrever. Um piloto extraordinário que, com sua humildade tamanha, certa vez, ao ser entrevistado, após uma grande vitória, quando perguntado a ele sobre qual a mensagem que ele gostaria de passar para todos os seus fãs do Brasil e do mundo, respondeu assim: “Não importa qual a sua classe social, se você for negro ou branco, se você é rico ou pobre... Tudo o que você fizer na vida, faça tudo com muito amor, com muita determinação e com muita fé em Deus, pois a sua vitória irá chegar de alguma maneira; ela irá chegar”.

Confesso que chorei muito e ainda choro quando ouço essa frase, seja na TV ou na internet, pois me marcou muito. Essa frase linda e maravilhosa, capaz de arrancar lágrimas de qualquer jovem sonhador, me motivava muito, mas infelizmente a minha realidade era outra, eu era dependente e não podia realizar nada sozinho. Quanto ao meu sonho de jogador, não pude seguir adiante infelizmente, pois novamente minha mãe me proibiu. Eu tinha de ficar com meus irmãos para que ela pudesse trabalhar e, naquela época, eu fiquei revoltado, irado e pensei em até fugir. E não é que fugi de casa mesmo...

Fui até a casa de um grande amigo de escola chamado Fábio Zaratinni e lá fiquei até poder me acalmar e voltar para casa. Aquele jovem era mais que um amigo. Eu sentia segurança em suas palavras, por mais que ele tivesse apenas 15 anos de idade. Ele era demais, ele era genial, ele era o Fábio. Infelizmente, naquele mesmo ano, ele veio a falecer.

Sua irmã arrumou um namorado que não era aceito pela família. Fábio, por ser um irmão responsável desde pequeno, sempre dizia a sua mãe o que sua irmã aprontava na escola. Então o suposto namorado não aceitou esse fato e foi até a casa de Fábio para brigar com ele. Esta briga o machucou tanto que ele morreu no hospital com hemorragia no estômago devido aos muitos chutes que recebera. Mesmo depois de ter feito cirurgia, ele não conseguiu aguentar e veio a falecer, mas Deus sabe de todas as coisas, e muitas delas não pertencem a nós. Aos nossos olhos, essa história parece triste, mas creio que Deus, através de sua misericórdia, irá salvar essa pessoa brilhante chamada Fábio Zarattini dos Reis, que com sua pureza de coração e humildade conseguia conquistar os amigos, professores e alunos. Creio que um dia iremos brincar no céu, mas enquanto isso ele dorme e aguarda a volta do Senhor Jesus.

Após a morte do Fábio, eu não quis mais saber de voltar à igreja. Ou seja, o caminho que tinha tudo para ser uma bênção eu troquei, desde cedo, pela vida do mundo. E eu mal sabia que essa decisão poderia me causar um dia marcas de tristeza, pois é isso o que o mundo faz com os filhos de Deus.


“Há um caminho que para o homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.” (Pv 14:12)



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